sábado, 27 de junho de 2009

OS SANTOS E OS MILAGRES

Na comunidade dos santos ou das pessoas que se esmeram em viver no cumprimento integral do mandamento do amor para com Deus e para com opróximo, os milagres não se constituem nos objetivos maiores da vida. O mais importante é vida virtuosa, testemunhada na simplicidade do dia-a-dia de aparência corriqueira, situação que não desperta curiosidade de ninguém eque melhor manifesta o amor das pessoas que vivem no tempo, visando à plenitude da eternidade.
"Fazer milagre" ou agir de maneira fora do comum em termos de produtividade, mesmo que em benefício direto do próximo e para a glória de Deus, embora causem admiração e respeito, são de importância secundária em termos de virtude. Milagres ou ações acima da natureza normal, em geral ocorrem ocasionalmente e de maneira esparsa e não se realizam segundo a vontade humana.
A vida, a natureza e bom senso comprovam que oextraordinário que se manifesta acima ou além do que é normal na natureza éuma realidade ou fato que raramente acontece. A ordem dos acontecimentos normais do acontece no universo manifesta a sabedoria do Criador de cuja vontade procede o próprio ordenamento do mundo.
O grande milagre na vida dos santos é sua contínua dedicação à tarefa assumida de se tornarem melhores e mais dispostos a agir como Jesus Cristo, dedicado ao cumprimento da vontade do Pai, sempre a serviço do próximo, em especial do excluído, do necessitado, do anônimo. A igreja e o milagre
A própria Igreja valoriza a simplicidade de vida de seus filhos e o significado de seu cotidiano na vivência extraordinária do bem fazer as ações ordinárias. Segundo Monsenhor Michele de Ruberto, Subsecretário da Congregação para as Causas dos Santos, ela sabe e proclama que somente Deus realiza milagres, pois eles são sinais da revelação, destinados a glorificar a Deus, a suscitar e reforçar nossa fé. "
Fenômenos que a ciência, a fé e o senso comum têm por inexplicáveis e são considerados miraculosos, porque superam positivamente o curso normal do desenvolvimento da vida ou por solucionarem, de forma admirável, situações difíceis que pelos recursos disponíveis da ciência superam o poder das criaturas, devem ser considerados como obras de Deus.
Nesse sentido, a Igreja continua exigindo comprovações de milagres atribuídos à intercessão de candidatos à beatificação e à canonização não para valorizar o dom dos milagres, mas – ainda conforme o mesmo prelado -apenas para outorgar, com segurança, a concessão do culto.
Na realidade, para santificar-se e testemunhar sua adoração a Deus e sua dedicação ao próximo ninguém precisa receber de Deus o dom especial de intermediar ou agir de maneira extraordinária. Porém, para santificar-se, toda pessoa deve amar a Deus e, por seu exemplo de vida virtuosa pessoal, atestar sua fidelidade a Deus e ao próximo.
Por si mesmos tanto os dons como os carismas não devem ser considerados nem evocados como condições que asseguram a santidade das pessoas. Jesus não ordenou que seus apóstolos e discípulos fizessem milagres. Ordenou-lhes que amassem a Deus sobre todas as coisas e se amassem mutuamente como Deus amou Jesus Cristo e O enviou ao mundo para efetuar a Salvação de toda a humanidade e revelar o Pai.
A prudência da Igreja
A Igreja Católica, ao cuidar das declarações de beatificação e canonização, age levada pela prudência e não para esperar que enquanto se desenvolvem as diversas etapas dos processos, haja maior ampliação do tempo e aumento de oportunidades para que se sucedam fatos extraordinários que a legislação canônica exige.
A seriedade que caracteriza as ações da Igreja impede que as autoridades eclesiásticas e a própria comunidade dos fiéis cheguem a admitir e a atestar como de origem divina, atributos pessoais e ações que poderiam explicar-se mais na simpatia do que nos testemunhos objetivos da vida virtuosa dos candidatos à beatificação ou à canonização.
Segundo o Cardeal José Saraiva Martins, habituado a analisar a vida dos candidatos à beatificação e à canonização e as relações existentes entre eles e as diversas culturas e tempos, " os santos são como faróis; eles indicaram aos homens as possibilidades de que o ser humano dispõe. Por isso, eles são de interesse também sob o ponto de vista cultural, independentemente da abordagem cultural, religiosa e de estudo com que nosaproximemos deles."

José Vicente de Andrade: Associado-fundador da AMHAGI, Jornalista, escritor e biógrafo do Beato Padre Eustáquio.

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